A maternidade é composta por diversas fases, que podem trazer à tona emoções positivas ou negativas. Saiba como praticar o autocuidado durante cada período
É quase unânime entre as mães: a maternidade é um desafio. Cada fase do desenvolvimento dos filhos tem suas peculiaridades e demandas, com impactos emocionais para a mãe, que, muitas vezes, tem uma trajetória silenciosa e solitária. As mães tentam fazer o melhor para os filhos. Mas, quem cuida de quem cuida?
A saúde mental materna ainda é uma pauta negligenciada. Em uma sociedade que romantiza a maternidade e supõe equivocadamente que todas as mulheres nasceram com o “dom” de maternar, pouco se fala sobre os impactos profundos que esse papel e as cobranças sociais podem trazer. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada cinco mulheres sofrerá um episódio de transtorno mental durante a gestação ou até um ano após o parto.
Fatores como a privação do sono dos primeiros anos da maternidade, as pressões sociais, as mudanças na relação – nos casos em que a mãe está inserida em um relacionamento afetivo -, a autocobrança e as transições na carreira profissional influenciam diretamente o bem-estar mental. “São muitas as cobranças da sociedade quanto ao papel da mãe, sendo que cada uma terá a sua vivência e seus dilemas. Cada experiência materna é única e deve ser ouvida e respeitada”, afirma a ginecologista da FUNDAFFEMG e responsável pelo curso do Casal Grávido, Dra. Daniela Espírito Santo.
Os cuidados com a saúde mental não devem se restringir ao início da maternidade. Eles precisam ocorrer durante todas as fases.
Puerpério: o início de uma jornada
O puerpério engloba as primeiras seis semanas após o parto, quando há o retorno gradual do corpo da mulher às condições pré-gestacionais. É o momento em que a mulher está se descobrindo como mãe, ainda em processo de recuperação física e emocional. Um período em que há dúvidas, dores e hormônios em ebulição.
E durante essa fase é possível que ocorra a depressão pós-parto, condição que atinge cerca de 25% das mães brasileiras, segundo a Fiocruz. “Essas mães se sentem sozinhas, confusas e com vergonha de admitir que não estão ‘felizes o tempo todo’. Mas, a verdade é que a maternidade precisa ser humana e está tudo bem em sentir as emoções”, ressalta Dra. Daniela.
Aleitamento materno: conexão e dúvidas
De acordo com o Ministério da Saúde, é recomendável que o aleitamento ocorra até os dois anos de idade e que, nos primeiros seis meses, o bebê receba apenas leite materno. O problema é que, muitas vezes, amamentar acaba sendo considerado como um indicativo de sucesso da maternidade e se torna uma pressão social. O que fazer se o aleitamento não dá certo, dói ou se torna um fardo?
A frustração por não atender às expectativas da amamentação pode gerar ansiedade, estresse e tristeza. E os sentimentos negativos podem impactar nesse processo. “O estresse e a ansiedade podem reduzir os níveis de ocitocina, neurotransmissor relacionado ao humor e que interfere na amamentação, e de prolactina, hormônio que estimula a produção do leite materno”, afirma a ginecologista.
Sempre é bom lembrar que não amamentar não é fracasso. O vínculo entre mãe e bebê vai além do leite.
Infância: mil e uma tarefas
Na medida que os filhos se desenvolvem e entram na infância, inúmeras tarefas, responsabilidades e aprendizados surgem. As mães se tornam pesquisadoras, nutricionistas, contadoras de histórias, médicas, psicólogas, professoras, entre outras funções ao mesmo tempo.
No intenso cuidado com o outro, a mulher acaba deixando de lado o autocuidado. A sobrecarga constante é um alerta e o cansaço extremo não pode ser normalizado.
Adolescência: a transição entre a infância e a fase adulta
Com a chegada da adolescência, tudo muda na dinâmica entre mães e filhos. Antes o centro do mundo, a mãe agora se vê do lado de fora. As perguntas não são mais feitas a ela, os abraços ficam raros e os conselhos parecem ultrapassados. Ao mesmo tempo, a atenção é redobrada com temas sensíveis inerentes à vida de um ser humano em formação, como comportamento, caráter, sexualidade e influência dos amigos.
Essa transição pode ser dolorosa e muitas mulheres vivem um luto emocional ao perceber que não são mais tão solicitadas com os cuidados básicos, além de ter novas e sérias preocupações. Entretanto, essa fase pode ser uma redescoberta da própria identidade.
Fase adulta: a mãe que segue sendo mãe
Mesmo quando os filhos se tornam adultos, a maternidade continua — silenciosa, atenta e presente. A mulher que foi tantas vezes o porto seguro agora se vê à margem das decisões. Mas o cuidado, o amor e as preocupações nunca acabam.
E é nesse momento que muitas mães se perguntam: e agora, quem sou eu? Por isso, cuidar da saúde mental ao longo da vida é um ato de autonomia e de preservação da saúde.
Como cuidar da saúde mental ao longo da maternidade?
- Dedicar momentos para descanso, silêncio e tempo para si;
- Entender que os sentimentos são legítimos. Tristeza, raiva, frustração e alegria existem e está tudo bem em senti-los;
- Buscar apoio profissional com psicólogo sempre quando possível. Ter um espaço seguro para falar e ser ouvida pode transformar tudo;
- Delegar tarefas e entender seus limites. Isso não é sinal de fraqueza, é coragem.
O papel da rede de apoio
A rede de apoio da mãe, composta por familiares, amigos, parceiros ou parceiras afetivas, é fundamental e pode ajudar da seguinte forma:
- Escutar a mãe com atenção e empatia;
- Fazer as tarefas domésticas e perguntar como pode ser útil no cuidado com os filhos;
- Não dar palpites sem ser solicitado;
- Cuidar do recém-nascido ou criança para que ela possa descansar ou fazer outra tarefa além de ser mãe;
- Incentivar o autocuidado;
- Respeitar o tempo e as decisões dela.
Um convite ao cuidado contínuo
No próximo dia 31, será realizada mais uma edição do Curso Casal Grávido, que tem como objetivo prestar apoio durante o período gestacional das famílias. Serão abordados os cuidados na gestação, os sinais de trabalho de parto e como proceder no pós-parto.
O curso será realizado de forma presencial na sede da FUNDAFFEMG (Rua Sergipe, 893 – Savassi), das 8h às 12h. Para aqueles que não conseguirem comparecer, ele será transmitido ao vivo, por meio da plataforma Zoom. O link para participação on-line será enviado após a inscrição.
Confirme a participação na Central de Atendimento, pelo (31) 2103-5858, ou por e-mail, com mensagem para fundaffemg@fundaffemg.com.br.